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Olhos não olham apenas

Posted by: Bia / Category: ,


Devido a um gesto, sorriso ou palavra,
Por uma duradoura fração de segundo,
Sinto ao meu redor o congelar do mundo.
Com um brusco choque de realidade
Depreendo meus arredores voltando a se movimentar
Ou, quem sabe, é apenas minha mente voltando a funcionar.
E então volto a apetecer aqueles olhos que só fazem me olhar
E ao meu pobre coração apressar


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passo que passa

Posted by: Bia / Category:

Ao passo que o tempo passa,

Vou me afastando da massa

Toda reunida na praça,

Fazendo tanta arruaça!

E por achar tanta graça,

Ninguém de lá devassa

Como o tempo passa...


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Um dia, uma história

Posted by: Bia / Category: ,

“Eu preciso te dizer algo importante antes de você viajar.” ela escreveu no celular.

Sua mente e coração eram por inteiro medo e ansiedade. “Vamos, você consegue.” falou consigo mesma e em seguida apertou a tecla ‘enviar’.

Ela voltou a observar o mundo lá fora pela janela do ônibus. Se pensamentos ocupassem lugar físico, as pessoas que lá estavam não caberiam mais, de tão apinhado que estaria o local apenas com os pensamentos dela. Mas não era à toa que sua cabeça estava tão cheia assim: tinham sido doze anos de amizade, e durante dois desses anos, ela apenas havia tentado ignorar esses sentimentos que agora insistiam em não sair de sua cabeça.

Quando chegou em sua casa, almoçou e foi direto para seu quarto, sem reparar em nada ao seu redor. Pensar muito nunca seria o suficiente naquela situação. E então o tempo foi passando. Uma hora da tarde. Duas horas... ele já deveria ter recebido alta do hospital e estar voltando para casa. 3 horas... ela iria dar mais algum tempo para ele descansar. 4 horas... hora de ir.

A rua passou por ela, mas ela não passou pela rua. Não tinha olhos para nada, só para dentro de sua mente. Tantas dúvidas, perguntas... por que depois de todo esse tempo? E se ele achasse que era só por causa da doença? E se fosse só por causa da doença? Custou-lhe toda sua coragem e determinação para seguir em frente com todos esses pensamentos a atormentando, mas ela não podia parar, não ia parar.

O local de destino chegou mais rápido do que ela esperava. Depois de respirar fundo, subiu as escadas e ao chegar no andar e apartamento, tocou a campainha. Uma mulher mais velha e conhecida atendeu.

“Entre, querida. Ele está em seu quarto.”

Ela entrou, e foi até o quarto. Ao ver aquele rosto, toda a coragem que havia adquirido se esvaiu. Ele estava ali, sentado na cama, e parecia tão frágil e cansado. Mas quando viu quem havia chegado, sua expressão pareceu se iluminar.

“Sentiu muito a minha falta de ontem para hoje?” ela perguntou, numa voz de quem estava brincando, enquanto se sentava ao seu lado.

“Muito,” ele respondeu seriamente. “de verdade.”

Eles conversaram por alguns minutos até que finalmente ele fez a pergunta que a fez congelar dos pés a cabeça:

“Você não tinha algo importante para me dizer?”

Ela vacilou. Não, ela tinha que continuar, tinha que falar. Já havia ido longe demais para desistir agora. E então as palavras saíram de sua boca como se tivessem esperado muito tempo para fazê-lo:

“Eu amo você.”

“Mas eu também amo você.” disse ele, confuso.

“Não, você não entendeu.” ela respondeu rapidamente. “Eu amo você do mesmo jeito que você me ama.”

“Do mesmo jeito que eu te amo?” ele perguntou, e ainda parecia confuso. “Mas eu continuo não...”

E então seu rosto pareceu se encher de compreensão. Eles ficaram em silêncio por alguns momentos, mas ela o quebrou, meio sem jeito:

“Mas eu acho que é tarde demais... Quer dizer, com tudo que está acontecendo. Você gostou de mim por dois anos inteiros, e eu nunca te dei uma chance, nunca me dei uma chance. E agora que você vai embora eu resolvo perceber que–“

“Não.” ele a interrompeu. “Nunca é tarde demais.”

Seguiu-se mais um silêncio que foi quebrado novamente, dessa vez por ele:

“Eu posso–”

Mas ela foi mais rápida. Seus lábios tocaram os dele, e os olhos de ambos se fecharam; um momento que seria descrito como o melhor de suas vidas. Eles aproveitaram sua única e última tarde ensolarada juntos e ele foi embora de noite, como planejado.

Ele morreu de câncer um ano depois. Ele ainda gostava dela e ela dele. Ela nunca o esqueceu e não pretende e nem quer fazê-lo.


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